Caminhos da Internacionalização: Desafios e Oportunidades
No último dia 17 de Setembro participei, com muita honra, da inauguração do Canal Humanidades na Pista (Plataforma YouTube), iniciativa do Departamento de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Naquele encontro fizemos algumas reflexões sobre caminhos e estratégias que o estudante brasileiro pode desenvolver para alcançar a internacionalização e analisamos o caso do Reino Unido como um país cujo setor universitário é altamente internacionalizado. Transcrevo, neste artigo, os pontos mais importantes discutidos, links para todos os “websites” mencionados e leituras de suporte para os assuntos abordados.
Assista ao vídeo da palestra AQUI
Considerações iniciais e um pouco da minha história:
Apesar do momento crítico que vivemos, a discussão da internacionalização do ensino superior é pertinente, pois existe uma visão pessimista de que a crise provocará o fim do ensino presencial e o fim da mobilidade internacional acadêmica. No entanto, a história mundial mostra que períodos de crises, epidemias e guerras nunca impediram o fenômeno da mobilidade e da busca pelo saber além de comunidades locais e fronteiras. O período de crise atual poderá apontar, no entanto, para a necessidade de mais cooperação científica entre instituições e pesquisadores, a medida em que a cooperação é vital para o progresso do conhecimento, da educação e da busca de soluções comuns à sociedade.
O Reino Unido (compreendendo Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte), é um país em que o processo de internacionalização é muito avançado. É uma nação relativamente pequena, com uma extensão territorial semelhante ao Estado de São Paulo, por volta de 66,5 millhões de habitantes, mas extraordinariamente possui quatro universidades na lista das 10 melhores universidades do mundo.
A internacionalização do estudante brasileiro, apesar de parecer um processo distante da atual conjuntura social e econômica do país, pode ser alcançada, se estratégias certas forem utilizadas, todos os recursos tecnológicos forem empregados nesta busca e acima de tudo o investimento pessoal em tempo, estudos e trabalho para a realização deste objetivo.
Como foi o seu início, como você chegou ao Reino Unido?

- Após minha graduação, lecionei por alguns anos no ensino público e particular, trabalhei como secretária, quando uma pessoa amiga (hoje a Dra Ana Emiliano, médica formada na UFRJ, pesquisadora na Universidade de Columbia,NY) sugeriu que eu me inscrevesse em um programa de bolsas de estudo para a língua inglesa, que uma escola de idiomas em Londres oferecia. Ela tinha acabado de chegar do Reino Unido, onde havia estudado por 1 ano.
- Me inscrevi no programa, fui aceita e após um ano de espera, vim para o Reino Unido, inicialmente para um período de seis meses de estudo de inglês, mas preparada estrategicamente para explorar as possibilidades de um curso de Mestrado. Após o término da bolsa, continuei nos estudos do idioma e analisei as possibilidades reais e financeiras de ingressar em um mestrado. Comecei a trabalhar, e após exames de inglês, inscrição e entrevistas, fui aceita no Birkbeck, Universidade de Londres, que é um centro de referência internacional em várias áreas. O curso escolhido foi um grande desafio, pois iniciei os estudos em um modelo pedagógico bem diferente. Os cursos de pré-mestrado, que habilitam candidatos internacionais a se ajustarem mais facilmente ao modelo de ensino mencionado, ainda não existiam. Aventurei-me em um assunto novo, pois o curso aprofundava estudos em Império Britânico e o Processo de Descolonização a partir de 1919. O interesse por estudos africanos atraiu-me para o curso e apesar de não ter ainda o domínio do vocabulário acadêmico, confiei no meu instinto e formação, e prossegui.

A objetividade e forma concisa do idioma inglês, a maneira como trabalhos devem ser redigidos e apresentar trabalhos, e a intensidade do curso foram grandes desafios. São impostos limite de palavras aos trabalhos escritos, provas e dissertações. A maior parte do trabalho é feito de forma independente, pois apesar do volume de tarefas e leituras ser imenso, a carga horária em sala de aula é menor ao que estamos acostumados no Brasil. Este sistema demanda muito foco e organização. Os cursos de Mestrado tem a duração de 1 ano em sua maioria. Em meu caso, tive a oportunidade de completá-lo em dois anos, pois eu possuía cidadania italiana e assim tive a permissão de fazer o curso em regime “part-time”, enquanto trabalhava para custear meus estudos.
Por outro lado, também vivenciei os aspectos positivos do sistema britânico: a eficácia do setor de apoio da universidade, a infraestrutura da instituição e facilidades como bibliotecas abertas das 8 às 23hs (incluindo sábados, domingos e feriados), salas de computador disponíveis 24 horas diariamente por todo o ano, a possibilidade de usar os arquivos e bibliotecas de outras universidades, acesso a arquivos de museus, a informalidade dos professores que encorajavam e até demonstravam uma certa admiração por ser uma estrangeira a fazer o curso. Tive dificuldades acadêmicas com o novo modelo de redação e provas, mas com o apoio da União de Estudantes, tive orientação gratuita para superar as dificuldades, e concluir o curso com sucesso.
Qual é o perfil do estudante que almeja a internacionalização?

Apesar dos entraves e dificuldades postas pelo atual governo brasileiro no acesso de estudantes/acadêmicos às bolsas de estudo, verbas para pesquisa e programas de cooperação científica, o estudante e o pesquisador brasileiro devem, sim, almejar mais.
Vive-se um processo de desvalorização da academia e desinformação do público sobre o valor do saber e da ciência – infelizmente levado adiante pelas autoridades em exercício, que não conseguem vincular o desenvolvimento da nação a um projeto de educação pública. O estudante do século XXI deve buscar os caminhos possíveis e existentes, e seguir, com determinação, rumo à internacionalização. Há inúmeras oportunidades disponíveis em instituições públicas internacionais, fundações sem fins lucrativos e até no setor privado. O processo de internacionalização da educação em vários países ampliou o número de bolsas de estudo e oportunidades de cooperação, além de terem facilitado os processos de admissão em tais programas. No entanto, para embarcar nesta jornada, sugerimos as seguintes táticas:
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- Desenvolva o pensamento estratégico: a estratégia envolve atitudes que preparam para as possibilidades do futuro. Minhas estratégias, apesar de não possuir a perspectiva financeira de viajar e estudar no exterior foram aprender bem o idioma, ficar atenta às possibilidades, obter o passaporte italiano ao qual tinha direito, manter o foco em estudos na Europa, por meu interesse em história, e pelas várias opções de países dentro da Comunidade Europeia. O estrategista observa a situação, e pensa a partir de uma perspectiva de vitória. Não sabemos qual será o resultado, mas devemos nos preparar para vários resultados, incluindo saber a hora de recuar! A estratégia é uma capacidade de pensar o futuro, e quanto maior a sua antecedência em sua preparação, melhor será a sua estratégia.
- Trabalhe para obter as melhores notas possíveis, desde o início de seu curso. Esse fator será crucial para uma candidatura à qualquer bolsa e aumentará a confiança em sua capacidade.
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- Considere o idioma inglês como um instrumento de trabalho. Esta habilidade lhe dará acesso à pesquisadores, trabalhos acadêmicos e universidades do mundo todo. Aprenda bem o idioma. Na falta de recursos para frequentar um curso de línguas, utilize as ferramentas disponíveis, como aplicativos, exercícios “online” – há recursos ilimitados para aprender idiomas hoje.
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- Identifique a área de estudo que mais lhe interessa, e assim pesquise universidades, centros de pesquisa, e bolsas de estudo dentro desta área.
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- Mantenha-se informado sobre o que está acontecendo no mundo, e quais oportunidades podem surgir a partir destes acontecimentos. Ex: O fortalecimento da União de Países Africanos e o projeto de desenvolvimento do continente – (Agenda Africa 2063). Para estudantes interessados em história da África, esse é um “website” a ser seguido, pois projetos em educação e cultura serão parte desta Agenda.
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- Busque habilidades fora do âmbito da sala de aula, como novas plataformas tecnológicas, a possibilidade de uma segundo ou terceiro idioma, por que também não melhorar sua redação ou conhecer novos softwares de processamento de dados? Em 2002, ao ser admitida em um curso de História Regional à distância da Universidade de Oxford, tive que aprender a usar plataformas de ensino a distância, que eram novidade na época, e fiz uso de programas Excel e Access para montar bancos de dados a partir de fontes que nos eram enviadas pela universidades (testamentos, registros de nascimento, cartas, etc.). Como aluna do curso fiz análises do perfil sócio-econômico de comunidades na região de Oxford. O conhecimento prévio do pacote “Office” ajudou-me de uma forma importante. O estudo da história é um processo dinâmico, e as habilidades que você adquirir serão cruciais para o desenvolvimento de seu trabalho, principalmente em nível internacional.
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- Comece a desenvolver sua rede de contatos profissionais. Faça as redes sociais “trabalharem” para você e o seu projeto, ao invés de apenas acompanhar informações irrelevantes nestas redes. Busque grupos de interesse profissional, siga as páginas das organizações que interessam, assista vídeos e debates comandados por historiadores e pensadores importantes. Ao seguir essas páginas e assistir esses vídeos você estará sempre atualizado sobre novas publicações, pesquisas e historiografia. Informe-se para planejar melhor sua estratégia. Atualize sua página LinkedIN – este não é um site de procura de empregos, apenas, mas uma rede mundial de contatos profissionais – você poderá contactar estudantes, acadêmicos, seguir universidades, participar de debates, ler e publicar artigos e saber sobre bolsas. As possibilidades são infinitas. Faça uso da rede Academia.edu, onde você poderá publicar seus trabalhos acadêmicos, ler trabalhos de outras pessoas, e mais ainda entrar em contato e trocar ideias com pessoas no mundo inteiro que se interessam por campos de estudo afins.
- Organização e foco: Separe uma hora por dia, uma hora por semana, ou algumas horas por semana, de acordo com a sua disponibilidade, para se dedicar a sua formação extracurricular e internacionalização. Quando desanimar ou julgar muito cansativo, pergunte-se: será que eu deveria mesmo gastar uma hora inteira “surfando” no “WhatsApp”, no “TikTok” ou no “Facebook”, aleatoriamente? Por vezes até irritando-me com os discursos e “notícias” sem qualquer embasamento científico ou factual que “bombardeiam”o espaço de redes? Ou usar essa hora focando em algo que vai me ajudar a realizar o plano de estudar no exterior? O tempo é um bem muito caro e escasso, utilize-o também para investir em você! Quanto menos tempo perdemos com coisas que não nos levam a lugar nenhum mais estratégicos nos tornamos!
- Construa o projeto cultural da sua vida: faça leituras, veja filmes, ouça música, aprecie arte que agregue valor à você. Você estará construindo a bagagem cultural que será importante na condução de sua vida como um profissional no Brasil ou internacionalmente. Estratégias: Ouça “podcasts”, audiolivros, acesse os milhares de obras de literatura clássica gratuitas online, canais literários de “YouTube”, há muitas possibilidades. Construí um projeto cultural intuitivamente em minha adolescência. Apesar de minha família não ter uma situação financeira muito favorável, eu fui criada por pessoas que acreditavam em educação, e naquela época existiam coleções de livros e discos em bancas de jornal, a preços bem populares e mais acessíveis do que em lojas. Nesse âmbito, conheci a literatura nacional e internacional, música brasileira e clássica, biografias de grandes escritores e compositores, interpretação de textos (sempre havia um estudo introdutório nos livros e discos) – isso tudo preparou-me culturalmente para uma vida no exterior. Você pode ter acesso a toda esta informação gratuitamente hoje.
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- Converse com seus professores! Ouça de quem já passou pelo mesmo processo. Troque ideias, pergunte, peça sugestões.
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- Identifique qual é o seu propósito. Pense no seu objetivo profissional. Isso será fundamental nos processos de candidatura à qualquer bolsa de estudos. Os Comitês Avaliadores das organizações e universidades para as quais irá se candidatar irão perguntar sobre a sua motivação e seus planos de vida com a formação para a qual está se inscrevendo. Será também importante para o seu planejamento e a escolha de suas estratégias.
O estrategista observa a situação, e pensa a partir de uma perspectiva de vitória. Não sabemos qual será o resultado, mas devemos nos preparar para vários resultados, incluindo saber a hora de recuar! A estratégia é uma capacidade de pensar o futuro, e quanto maior a sua antecedência em sua preparação, melhor será a sua estratégia.
Se somos estrategistas, não podemos parar de pensar em educação! Somos estudantes permanentes. No nosso mundo de hoje não existe mais a figura do formado e sim do formando!
A internacionalização é possível, mas demanda estratégia e trabalho!
“O futuro pertence àqueles que se preparam hoje para ele.”
Malcom X
Como a instituição pode criar estratégias para preparar estudantes para a internacionalização?

A internacionalização do ensino superior é um grande desafio nacional. O Brasil sofreu um isolamento na educação superior, devido à distância, o idioma, a falta de recursos e o legado de políticas anteriores, que influenciaram essa situação. O Programa Ciência Sem Fronteiras teve um impacto muito positivo quando começou a apontar um caminho para a internacionalização. Várias universidades britânicas com as quais tive a oportunidade de conversar, mostraram-se satisfeitas e ressaltaram a qualidade dos estudantes e pesquisadores enviados. Infelizmente o programa foi cancelado.
Estatísticas do “British Council” (parte do Ministério de Educação Britânico) dizem que 63% dos pesquisadores nunca teve uma experiência de pesquisa fora do Brasil e, de fato, a maioria não tem conexões além do raio de 100 quilômetros de sua instituição.
Isso é um contraste ao caso do Reino Unido, onde 24% dos pesquisadores nas universidades são de outros países. Esta diversidade é um ingrediente fundamental para a excelência do ensino no país.
O processo de internacionalização no Reino Unido se desenvolveu a partir dos anos 80, e a Universidade de Nottingham foi a pioneira criando o modelo moderno do “international office” (escritório internacional).
O “International Office” existe em todas as universidades, e tem funções diversas como: suporte a estudantes estrangeiros no processo de matrícula e solicitação de vistos, apoio ao processo de internacionalização de estudantes da própria universidade, trabalho de “marketing”—divulgando a universidade internacionalmente e recrutando estudantes, coordenação de cooperação com instituições externas como governos e empresas.
O conceito de internacionalização abrange a presença do estudante estrangeiro, o envio de estudantes da universidade para programas de estágio ou intercâmbio fora do Reino Unido, o papel de pesquisadores e professores estrangeiros, parcerias com governos e setor privado.
A Educação é um dos 10 principais setores econômicos do Reino Unido. Em 2014-2015, o ensino superior contribuiu com £73 bilhões em arrecadação para o Reino Unido, sendo que £25 bilhões foram gerados por estudantes estrangeiros. O setor universitário gera cerca de 1 milhão de empregos, além de ser o terceiro maior empregador do país.
Em 2019, haviam 458,490 estudantes internacionais no Reino Unido, correspondendo a 19.6% do total de estudantes universitários no país.
Em 2019, 55.2% dos trabalhos de pesquisa acadêmica publicados no Reino Unido foram escritos em co-autoria ou colaboração com pesquisadores internacionais.
Existem por volta de 150 universidades públicas e 10 instituições particulares com o status de universidade. As universidades particulares não constam dos rankings anuais, por não passarem pelos mesmos processos de inspeção e avaliação que as universidades públicas, além dos processos de admissão em cursos serem menos rigorosos.
A universidade pública é mantida, financeiramente por:
- Orçamento públicos de educação
- Anuidades pagas por estudantes estrangeiros particulares
- Anuidades pagas por programas estrangeiros de bolsas
- Fundos de pesquisa patrocinados por agências internacionais, como o Conselho Europeu de Pesquisa
- Doações de particulares: indivíduos que deixam doações para as universidades em testamento, ex-estudantes (chamados de “Alumni”) que fazem contribuições mensais para manutenção da instituição e custear os estudos de estudantes menos favorecidos, indivíduos que estabelecem “trusts” ou bolsas de estudo. Por exemplo, a atriz Nicole Kidman, estabeleceu a “Dr. Antony Kidman Health Psychology Scholarship” dentro do King’s College, em homenagem a seu falecido pai, psicólogo, oferecendo bolsas de Mestrado a candidatos menos favorecidos.
- Parcerias com a indústria. Estas parcerias se dão, majoritariamente, no setor de R&D (Research and Development) ou Pesquisa e Desenvolvimento – por exemplo: empresas petrolíferas e universidades escocesas. Outro bom exemplo é o projeto da Polícia da Índia e a Universidade de Nottingham (Dept. de Geociências + Centro de Direitos Humanos), no mapeamento de fábricas clandestinas e trabalho escravo infantil naquele país de dimensão continental. Essas parcerias beneficiam a universidade, a indústria e mais ainda ao estudante, que tem além de preparar-se para o mundo do trabalho, tem oportunidade de utilizar as mais recentes tecnologias da indústria. No entanto, o conceito de parceria é bem distinto do que temos no Brasil, pois de forma alguma implica na perda de autonomia ou interferência nos destinos da universidade. Muito pelo contrário, as decisões da universidade são soberanas e a empresa interessada em parceria é que deve submeter-se às condições impostas pela universidade em qualquer tipo de acordo.
Estes fatores garantem a sustentabilidade da universidade.
A internacionalização britânica é, primeiro, fruto de consistentes políticas públicas de educação que atravessaram vários governos – independente dos partidos políticos no poder. Essas políticas vinculam a excelência do ensino superior ao desenvolvimento do país, e a manutenção do protagonismo do Reino Unido na geopolítica mundial. Esta nação, de pequena extensão territorial, detém 4 das 10 melhores universidades do mundo, consequentemente ocupando o segundo lugar em qualidade de ensino no mundo, já que cinco das outras instituições presentes no mesmo ranking são norte-americanas. Quando o assunto é a pesquisa pela vacina de combate ao Covid-19, qual é a primeira universidade de refêrencia a ser lembrada?
O BREXIT e o desligamento da União Europeia apresentam um grande desafio para a Academia, com a eventual perda de financiamentos patrocinados por agências europeias, a possível redução no influxo de pesquisadores e estudantes europeus no país, e a perda do livre movimento de estudantes e pesqisadores britânicos pelas universidades européias por motivos de visto.
No entanto, as universidades estão reagindo, através de pressão ao Parlamento e às autoridades de educação, para que o setor universitário mantenha a continuidade em seu trabalho e excelência. Uma grande conquista é a reinstalação do “Post-Study Work Visa”- programa que permite a qualquer estudante universitário estrangeiro trabalhar no país por dois anos após o término de seu curso.
Algumas sugestões de estratégias, a meu ver, facilitariam o caminho da internacionalização;
Dentro da universidade:
- Acompanhar o que as universidades brasileiras mais internacionalizadas estão fazendo, e montar estratégias dentro de sua realidade.
- Usar a inovação como ferramenta para envolver as partes interessadas, levantar fundos e capacitar.
- Intensificar o “networking” com instituições internacionais.
- Incentivar os estudantes através de divulgação de oportunidades, como por exemplo, a criação de um banco de dados, um fórum, ou uma página no site do Departamento de História, listando as possibilidades de bolsas e fundos para pesquisa internacionais.
Em nível nacional
- Cooperação com os Departamentos de Línguas e Faculdades de Letras para uma futura implementação do inglês como língua de comunicação entre pesquisadores, a semelhança de institutos em Portugal, Itália, Holanda, países da Escandinávia, etc.
- Criar condições para receber visitantes/pesquisadores.
- Trabalhar num reconhecimento mútuo de qualificações.
- A criação de um banco de dados dos “Alumni” (ex-estudantes) das universidades. Essa é uma excelente forma de acompanhar a trajetória profissional do estudante, promover “networking” e colaboração entre projetos de interesse.
No entanto, qualquer mudança em direção à internacionalização também passa por uma mudança de mentalidade por parte de alguns de membros de nosso setor acadêmico em relação à qualidade do trabalho desenvolvido no Brasil.
Existem cientistas, pesquisadores e professores brasileiros desenvolvendo trabalhos inovadores pelo mundo afora. Há exemplos muito significativos como a pedagogia de Paulo Freire, sendo ensinada em todos os cursos de educação no Reino Unido (existindo até o Instituto Paulo Freire da Universidade de Central Lancashire), ou o modelo de gestão de Ricardo Semler, que é referência em todos os cursos de administração no mundo.
Entre 2015-2018 houve mais de 13,000 publicações de pesquisadores brasileiros em co-autoria com pesquisadores do Reino Unido, sendo 59% destes trabalhos na área de Artes e Humanidades. Ainda falando de Reino Unido, mencionamos a existência, há quase 40 anos, da Associação de Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisadores Brasileiros no Reino Unido, com um trabalho de divulgação de oportunidades, orientação e apoio de brasileiros, além de estreitamento dos laços com as diversas universidades britânicas.
Antigas premissas conservadoras, que remontam ao pensamento de intelectuais como Monteiro Lobato ou Nina Rodrigues, e desqualificam o Brasil em relação ao que é produzido externamente estão ultrapassadas. No entanto, infelizmente, a reprodução desta ideologia volta à tona quando setores da sociedade tentam justificar a submissão a fatores externos, falta de investimento ou cortes em orçamentos no setor educacional, científico ou cultural.
Como acadêmicos e intelectuais devemos reagir, não deixarmo-nos abater e buscar estas oportunidades usando a criatividade e o talento tão característico do caráter brasileiro.
Quais são os desafios para o profissional de história, onde utilizar o seu conhecimento?

Tradicionalmente associamos a figura do profissional de história à sala de aula, curadoria de museus e os esparsos centros de pesquisa.
No entanto, é interessante vermos o caso do Reino Unido, onde o conhecimento da história do país é uma parte importante da formação do caráter britânico.
Um estudante, ao pesquisar “websites” de universidades e procurar as saídas profissionais para graduados em história, encontrará opções como:
- Meios de Comunicação (TV, rádio, jornalismo, documentários)
- Setor de Defesa
- Setor de Finanças
- Serviço Público
- Curadoria de Museus, Galerias de Arte e Patrimônio
- Política
- Diplomacia
- Artes (assessorias para cinema, literatura,etc)
Nos últimos 15 anos, o Reino Unido teve dois Primeiro Ministros formados em História, em partidos opostos: Gordon Brown e David Cameron. Curiosamente, o Principe Charles também é formado em História.
Programas de história fazem parte da vida cotidiana inglesa, quer sejam em tv ou rádio, abordando todos os períodos e países. Os documentários da BBC, por exemplo, são conhecidos mundialmente.
Historiadores são constantemente convocados a participarem em programas jornalísticos para refletirem sobre situações pontuais. Atualmente, por exemplo, há uma grande reflexão sobre as questões raciais no Reino Unido, englobando a historiografia existente de relato dos períodos escravista e colonial britânicos, à luz das manifestações de protesto ao racismo do presente e a luta pela igualdade no país. Os historiadores estão na linha de frente destes debates promovidos nos meios de comunicação, muitas vezes contextualizando detalhes desconhecidos pelo público.
Nas fotos apresentadas, ilustramos exemplos de três historiadores muito conhecidos no país, autores de livros e apresentadores de programas de história.
- Dame Mary Beard – historiadora especializada em Civilização Romana, professora da Universidade de Cambridge, autora de vários livros, crítica literária, apresentadora de programas de história, artes, política, etc.
- Historiadora Ruth Goodman – historiadora freelance, apresentadora de diversos programas de tv versando sobre a vida quotidiana no Reino Unido, no Período Tudor, Idade Moderna, entre outros temas, consultora de meios de comunicação, museus, indústria cinematográfica, e escritores.
- Historiador/Professor Trisham Hunt – historiador, professor da Queen Mary, Universidade de Londres, autor de vários livros, apresentador de vários programas de história na TV e rádio, político, ex-parlamentar do Partido Trabalhista inglês, diretor do Museu Victoria e Albert.
A referência ao filme Pantera Negra é um exemplo do conhecimento histórico aplicado às artes, pois o trabalho de figurinos deste filme partiu de uma pesquisa profunda acerca do vestuário, tecidos e símbolos de diversas nações africanas.
Com esses exemplos, incentivamos aos estudantes que pensem o trabalho do historiador de uma forma ampla.
Não sabemos o que irá acontecer amanhã, mas constatamos que o mundo se encaminha cada vez mais, quer queiramos ou não, para uma expansão do conceito de trabalho se sobrepondo ao conceito de emprego.
Nesta nova forma de trabalho, na qual projetos, sem restrições geográficas, serão importantes, a internacionalização ampliará as oportunidades de inserção no mercado para o profissional de história.
“Comece de onde você está.
Use o que você tiver. Faça o que você puder.”
(Arthur Ashe)
Leituras & Pesquisa
Estas são sugestões de links informativos, incluindo exemplos de instituições com programas de bolsas de estudo, e outras leituras sobre internacionalização britânica e o caso brasileiro. Não é uma lista definitiva, mas quem sabe, um ponto de partida rumo a sua internacionalização!
- ABEP – Associação Brasileira de Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisadores no Reino Unido
- ABEP/Embaixada do Brasil em Londres: “Guia para Estudantes Pesquisadores Brasileiros no Reino Unido”, Londres, 2017 (versão pdf)
- Academia.edu
- Becas Santander Futuro
- Bolsas Chevening do Governo Britânico
- Erasmus Mundus–programas de bolsa de estudo e oportunidades acadêmicas para professores financiadas pela União Européia.
- Fundação Gerda Henkel – Fundação sem fins lucrativos alemã que oferece bolsas de estudo e financiamento para história e artes.
- jobs.ac.uk (website ligado à Universidade de Warwick com posições de trabalho acadêmico em universidades britânicas e de outros países, incluindo Doutorados e Pós-Docs, etc.)
- thepienews.com – Notícias sobre educação internacional atualizadas diariamente, incluindo oportunidades fora do eixo Estados Unidos e Europa.
- http://portal.mec.gov.br/dominio-publico – mais de 100.000 obras de literatura nacional e mundial de graça para leitura (Seja o seu projeto cultural!)
- scholarship-positions.com– extensiva listagem de bolsas de estudo internacionais.
- scholars4dev.com/ – Extensivo banco de dados com bolsas de estudo para candidatos de países em desenvolvimento.
- União dos Países Africanos
- Universities UK – Universities UK, fundada em 1918, é a associação de representação de 139 universidades no Reino Unido. Todos os estudos da Universities UK acerca do setor universitário britânico, estão disponíveis para consulta e “download” no website.
- globalscholarships.com – extensiva fonte de infomação e listagem de bolsas de estudo internacionais, idealizada por ex-estudantes internacionais.
Outras Leituras
- ENGBERG, David, Gregg GLOVER, Laura E. RUMBLEY and Philip G ALTBACH: “The rationale for sponsoring students to undertake international study: an assessment of national student mobility scholarship programmes,”, Londres, British Council, May 2014.
http://www.britishcouncil.org/education/ihe/knowledge-centre/student-mobility/rationale-sponsoring-international-study - GÜRÜZ, Kemal, Higher Education and International Student Mobility in the Global Knowledge Economy, State of New York University Press, Albany, 2011.
- SCHWARTZ, Peter, A Arte da Visão de Longo Prazo, Editora Best Seller,Rio de Janeiro,2001. (Apesar de ser uma obra mais antiga, este livro tem uma abordagem muito interessante sobre tomada de decisões e desenvolvimento de visão estratégica de profissionais e organizações).
- SING, Navin and PAPA, Rosemary, “The Impact of Globalization in Higher Education”, International Journal of Educational Leadership, Preparation, Volume 5, Number 2 (April-June 2010), http://cnx.org/contents/4649fb69-b1a3-44c5-bcad-d9187da54236@1/The-Impacts-of-Globalization-i
- “The Wider Benefits of International Higher Education in the UK”, September 2013,BIS Research Paper 128, Department for Business Innovation & Skills. – Relatório do Departamento de Negócios, Inovação e Capacitação do Governo Britânico sobre os benefícios da internacionalização do ensino superior no país.www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/240407/bis-13-1172-the-wider-benefits-of-international-higher-education-in-the-uk.pdf
- “The State of the Relationship UK and Brazil”–Estudos disponíveis no website Universities UK sobre desafios da internacionalização no Brasil
- https://www.universitiesuk.ac.uk/International/news/Pages/the-state-of-relationship-UK-and-Brazil.aspx
- https://www.universitiesuk.ac.uk/policy-and-analysis/reports/Documents/2019/Brazil- mapping-report.pdf“
- “Universidades para o Mundo: Internacionalização do Ensino Superior”, Relatório Anual do British Council (Departamento de Educação Britânico) sobre a internacionalização e o ensino do idioma ingles no Brasilhttps://www.britishcouncil.org.br/atividades/educacao/internacionalizacao/universidades-para-o-mundo
- “Why Invest in Universities?” – Documento publicado pela “UK Universities” em 2015 sobre os bancos da participação da indústria no financiamento de Pesquisa e Desenvolvimento no Reino Unido. https://www.universitiesuk.ac.uk/policy-and-analysis/reports/Documents/2015/why-invest-in-universities.pdf



